segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Oceânico

O pranto sai-me rido.
O derramado atua
a corromper-me a razão.

Misturado a algumas doses
de garrafas já vazias,
derramo sorrisos.
Vomito.

Sinto-me,então, pleno, oceânico.
Contraponho-me ao poeta.
Derramo meu riso,
sorrio meu pranto!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Epifenômeno

Domingo-manhã
chamo o indiferente
que reluz oblíquo em meus tênis baratos.

Adentra pela janela,
sem boas maneiras,
sem a suntuosidade de quem é rei.

Brilha para todos, dizem.

Como se rindo,
arde-me a fronte,
irradia em meus pensamentos.

Epifenomenalmente,
me queima a pele.
Imoralmente,
Desnatura o peito.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Moral da semana

Hoje sei bem porque o álcool combina tanto com a vida. Passamos constantemente por estados de embriaguez - depois da euforia, logo vem a depressão.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Fluxo de inconsciência

Acusas meu id ácido, corrosivo.
Teu tom adstringente
opõe-se a meu mundo,
livre da tua falsa moral.

No fundo, toda profundidade é rasa, bem sei.
Por trás de tua bela oratória,
podes até não ser ácido,
como me dizes...

Mas no caráter de teu discurso,
que químico não te diria uma base,
família 1A?

(ao superego)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pilar

Não há um deus,
amigos,
ou amor.

Há apenas um fado
e um eu.
Eu base, fuste e capitel.

domingo, 17 de agosto de 2008

Cansei

O tempo passou e as idéias minguaram.
Oficialmente dei um tempo.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sobre o falar metalinguistico

Relendo os primeiros textos que escrevi nessa página, reparei que há tempos não me entrego aos prazeres da linguagem em prosa. Confesso, a necessidade de usar conectivos,de dar mais consistência à estrutura, de certa maneira acabou me afastando da utilização dessa forma textual. Foi a desalentadora complexidade prosaica que me impeliu a novos rumos.
.
E como hoje me parece tão inevitável enxergar com bons olhos esses novos rumos! Meio sem querer, meio querendo, fui desembainhando um verso aqui e outro acolá - digo desembainhando porque, passado o tempo, se tornou notório que brigava com os textos; o poeta briga com a vida, pensei para confortar -, fui dando forma ao que se tornava amorfo, fui escrevendo (poesia?).
.
Ademais, o despertar da paixão antropófaga me incitava à missão de depor o espalhado nos corredores mais sórdidos dessa rede bloguística - me pareceu uma esperança na arte literária. É bem verdade, qualquer coisa que escrevesse tenderia a se engrandecer perto da tagarelice sentimental de uns e outros, do ilogismo decadente, do surreal que rima pobre e da despretensiosa prosa de diarinhos virtuais. (Repare a imodéstia ao me comparar com os amiguinhos). Segui metalingüisticamente falando.
.
E quando reparei não passava de (poesia?) metalingüisticamente falando cheio de despretensão. Eis ai o motivo da reviravolta no blog. Despretensão! Ruína! A mim aquela singela senhora sempre me pareceu a gravidade! Ao que me parece, não há um homem sequer que tenha ascendido sem grande pretensão. Faltava embriaguez do escrever, o vigor das palavras!
Que me abomine, eu escritor de ofício! Que me execre a mim mesmo!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

As aspas da abolição

Mil oitocentos e oitenta e oito. Treze de maio. Após uma confluência entre pressões externas e internas, com a promulgação da Lei Áurea, o Brasil fora o último país ocidental a “abolir” oficialmente a prática da escravatura. Através de tal ato a nação pretendia adequar-se ao contexto do trabalho livre, já contemplado em grande parte das nações, e essencial à consolidação da modalidade do capitalismo industrial nascente.

Ao contrário do ocorrido em alguns países, no Brasil, o processo de transição entre a escravidão e o trabalho livre foi decorrente de um arranjo político, não havendo uma guerra civil. Assim, a luta entre abolicionistas e os grandes proprietários escravocratas foi uma batalha parlamentar. Os grandes proprietários rurais defendiam uma volátil ideologia a fim de justificar o cativeiro – alguns afirmavam que traziam benefícios à população negra ao inseri-los em uma “sociedade civilizada”, outros, ou apelavam para a catequese, ou para a simples necessidade do escravismo para manutenção do sistema vigente. Já nos centros urbanos, os abolicionistas defendiam, num discurso ilustrado, o fim da escravidão argumentando ser uma instituição corruptora da moral e dos costumes, que alienava os direitos naturais do homem, além de ser menos produtiva que o trabalho livre.

Apesar desse antagonismo interno entre cidade e campo, o primeiro passo efetivo rumo à abolição – Lei Eusébio de Queirós – foi dado mais por pressão externa, exercida pela Inglaterra, que por mobilização do movimento intelectual urbano, pouco consolidado na época. Ainda que mais tarde esse movimento, já mais bem organizado, venha provocar uma pequena redimensionalização do negro na sociedade, invertendo gradualmente os papéis há muito trocados - o negro deixa de ser coisificado, passando a ser visto como humano e o senhor escravocrata como algoz -, fica claro pós-abolição que seu enfoque era consonante com a questão política e econômica defendida pela Inglaterra, ansiosa em fomentar um mercado consumidor interno em decorrência do assalariamento dos libertos.

O movimento que visava à abolição da escravatura, o fazia, porém, desacompanhado de projetos de inserção do contingente de mão-de-obra negra ao sistema do trabalho livre e de integração do negro com a sociedade – propunha a abolição da escravatura, contudo sem demolir os fundamentos da sociedade escravocrata: a monocultura e o latifúndio. Dessa forma, enquanto fossem mantidos tais fundamentos, as mudanças acarretadas pela abolição seriam apenas superficiais e artificiosas.

A partir do momento em que houve um esforço da classe dominante em negar a afirmação da identidade cultural africana por parte dos cativos, reprimindo valores, danças e cultos, e reavivando a tendência à europeização da sociedade brasileira, esse quadro histórico de exclusão tornou-se ainda mais expressivo. O incentivo à imigração branca e a constante desqualificação do trabalho livre exercido pelo negro resultaram em preconceitos como o do “trabalho de negro”, que relaciona o negro às várias formas de trabalho braçal e até hoje se observa cristalizado em algumas áreas do país.

Mesmo com todo o legado da escravidão, não convém afirmar que as dificuldades enfrentadas pelo negro no mercado de trabalho hodierno sejam unicamente oriundas dos vínculos absorvidos durante o período de escravidão. As próprias relações instituídas são constantemente reestruturadas e remodeladas em novas formas preconceituosas. Admite-se, por exemplo, uma revalorização da cultura lúdica afro-brasileira, a qual acaba por induzir à errônea concepção de que o negro é mais apto à dança e à música que a outras áreas do conhecimento. Tal fenômeno torna-se preocupante por não contribuir para a real inclusão no mercado de trabalho e ainda afetar a auto-estima dos jovens negros, que bombardeados por essas idéias, assimilam estarem menos inclinados à cultura acadêmica.

Impõem-se à população negra inúmeras barreiras a serem transpostas. Há pouco tempo, a “boa aparência” era um dos critérios para a ocupação de cargos – sabe-se que por tal se subtendia feições não-negras, configurando um artifício do empresariado para tolher a participação desse segmento étnico no mercado de trabalho. Ademais, a própria marginalização social e os baixos índices de formação do trabalhador negro ratificam a posição que lhe é designada.

A competição pelo espaço no mercado de trabalho permanece desigual inclusive quando brancos e negros atingem patamares educacionais semelhantes. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE -, brancos chegam a receber em média salários duas vezes maiores que os recebidos por negros e, dentre os desempregados, o número de negros é maior.

Mediante toda a conjuntura apresentada, percebe-se que a função social do trabalho, preceito basilar constitucional, juntamente com o direito fundamental à igualdade, que no estado democrático de direito, além de formal, é material, deve ser assegurado através de políticas que possibilitem uma gradual mudança de mentalidade social. Somente assim, cento e vinte anos depois, poderemos finalmente dizer que a escravidão foi abolida. Sem aspas.

P.S. - essa redação foi terceiro lugar de um negócio aí.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Homemless

Wireless e touch screens
não tocam o coRazão do homem hodierno.
Sozinho, sem fios e filhos,
Moderno, se diz.

E diz solitário, eu eu eu.
Veste o oco com pano pouco. Tolo.
Esconde o vácuo com armaduras vãs.
Etiquetas!

Porém, ao escutar Aquele oi rouco,
ouve também o lamentar do corazão.
"Não gosto dessa prisão.
Ai se seis fossem nove...".

sábado, 2 de agosto de 2008

Tempo ao tempo

Dado tal tempo d'o tempo,
dum tempo de mim,
um tempo teu,
meu dou um tempo de ti.
Falta o tempo meu.

Entretanto,
no tempo de ti dado,
dado um tempo,
sinto falta do tempo teu.

"Falta tempo!
- Dado ao tempo."
Falto.
(eu)

sábado, 26 de julho de 2008

Intervenção cirúrgica

Hoje sinto dores,
e não são de amoreS.
Meu peito arde,
e não é paixão.

Deitado na cama,
que também chamam mesa,
me cortaram o peito
como lá no mato se trincha porco.

Em requintes cruéis,
ao som de grilos Hitchcock,
me cortaram o peito
como lá no mato se destrincha porco.

Hoje sinto dores,
e não são de amoreS.
Meu peito arde,
e não é paixão.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Fogo do sétimo dia

Virei incendiário.
Vou tocar fogo no blog.

1 fósforo e 60 mL de querosene
ardendo idéias e sentimentos mentidos.
1 + 6 + 0, 7.
Fogo Perfeito!
(Combinação cabalística milimetricamente arquitetada).

E do que sobrar do defunto, perfeito, - as cinzas - farei um novo poema.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Selo


Confesso que antes de receber este selo nem sabia que existia dessas coisas para blog. E não se pode diz que a função da madrinha é justamente a de introduzir seu afilhado no meio? Pois bem, o selo aí acima recebi da minha, Jéssica Mendes, que conheci faz pouco tempo, mas já é muito querida.



Regras a seguir: o prêmio deve ser atribuído aos blogs que vocês considerem ser bons. Entende-se como bons blogs aqueles que vocês costumam visitar regularmente e deixar comentários.- se você recebeu o “Diz que até não é um mau blog”, deve escrever um post indicando a pessoa que lhe deu o prêmio com um link para o respectivo blog. Neste post devem aparecer o selo e as regras.- indique outros blogs ou sites para receberem o prêmio.- exibir orgulhosamente o selo do prêmio no seu blog, de preferência com um link para o post em que fala dele e de quem te presenteou.
[1] Escolher banda/artista.
[2] Responder somente com os títulos das canções.
.
[1]Mombojó
[2]
Descreva-se: "Homem - Espuma"
O que as pessoas acham de você: "Anarquia"
Descreva sua última relação: "Saborosa" - enquanto durou -
Descreva a atual relação: "Vazio e momento"
Onde queria estar agora: " O céu, o sol, o mar "
O que você pensa sobre o amor: "Desencanto"
Se tivesse direito a apenas um desejo: "Novo Prazer
Uma frase sábia: "Deixe-se acreditar "
Uma frase para os próximos: Mais "tempo de carne e osso"
.
.
Indico o selo para os seguintes blogs:
Fragmentos, Juliana Linhares : http://www.deminhalma.blogspot.com/
Semáforo, em especial João Paulo : http://www.semaforo.wordpress.com/
Peculiaridades da existência, Rômulo Espeto : http://www.peculiaridadesdaexistencia.blospot.com/

domingo, 20 de julho de 2008

Dissabores Sortidos

Textos infelizes.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Dissabores Sortidos

Numa saída casual ao

mercado da esquina
trouxe comigo um pacotinho.
Balas daquelas bem escrotas
que dão água e dissolvem na boca
antes de se sentir
o gosto.


O rótulo me infomava do
mau negócio

Balinhas do Coração
60 unidades, dissabores sortidos.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Dia 16

1+ 6, 7
Perfeição!

É hoje teu dia, minha quimera, o dia em que tu nasces!
E é hoje, no teu dia, minha quimera, o dia em que morro.
Porque tua vida não pode ser senão sinônimo de minha morte,
porque é só na tua ausência que tenho vida (própria).


Parabéns, fantasia.

sábado, 12 de julho de 2008

Avós Contemporâneos

Ai meus contemporâneos, como estou cansado das estrelas, do céu azul, da caracterização impalpável, do lirismo bloguístico importado de épocas passadas. Quem ainda observa estrelas em meio a semáforos e engarrafamentos? Quem ainda consegue olhar o céu estrelado quando sobre seus olhos arde uma lâmpada a vapor de 400 Watts? Se mataram a poesia de anteontem, que logo hoje seja feito seu enterro!
.
Sejamos mais criativos e menos saudosistas, saibamos traduzir nossa era como merece ser traduzida. É tempo do digital, do caos urbano, do povo sem crença, do amores efêmeros, do desamor. Olhemos sim para o passado, mas como quem olha para algo que já foi superado. Contemplemo-lo a distância.
.
E somente para provar que não o descarto, aproveito o que disse Descartes e deixo a deixa aos contemporâneos - sim, a vós contemporâneos, avós que ainda usam a segunda pessoa do plural.
"Aquele que emprega demasiado tempo em viajar acaba por tornar-se estrangeiro em seu próprio país...".

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Do terceiro dia

Numa bandeja me trouxeram
um copo cheio desse estado
de semi-demência.
(Mentiram-me ser um tônico)
Engoli.
Engasguei.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ressurreição

Eletro, ecocardiogramas. Normais.

Se passar do terceiro dia,
essa dor que invade meu peito
e me faz ver estrelas onde sequer há céu,
se passar do terceiro dia,
é amor.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Liberalismo sentimentiau.

Na sociedade pós-moderna, pois não apenas moderna.

Oi.
tudo bem?
tiamo,
tiau.

Sente.men(te).tiau.

sábado, 14 de junho de 2008

Seu Eu e Seu migo

Na sina de viver só com migo,
sem amigo,
sigo
e consigo
viver a sina
de só
viver.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Poesia Descartável

Vivo a poesia das cidades
escrita em flyers de supermercado, ganhos no sinal.
Descartável.

Escrevo, amasso e jogo fora -
pela janela do carro,
pra entupir bueiro.

E infla a inflação

Sento-me no banco do coletivo,
Muito na cabeça, barriga cheia de vazio.
Ao meu lado, uma senhora negra,
cuja expressão denunciava a vida. Magra.
Levada a muito sofrimento e pouco sustento.

- Desculpa perguntar, quantos anos?
-17.
- Meu neto tem 15 e já é quase do teu tamanho - maior que todos da família.
- É, lá em casa também é assim...
- Vendo pêtas, não quer um pacote?
- Quanto custa?
- Hum i vinticinco.
- Não, obrigado.

Ali findou aquele curto papo. Meu bolso acomodava uma única moeda de 1 real - edição comemorativa, 40 anos do Banco central. De nada me valia.
Que deus abençoe a inflação!

sábado, 7 de junho de 2008

Não vou mentir

Desculpe, eu me amo -
Tanto que procuro n'outrem
eu.
Desculpe, eu me amo.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

O silêncio ainda fala mais alto?

Exercício mental

Repita comigo: Jamais postarei trabalhos escolares no blog
"Jamais postarei trabalhos escolares no blog.
Nunca, nunca..."
Repito comigo: Jamais postarei trabalhos escolares no blog ?

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Pedra Furada

A sabedoria popular esperança os insistentes com o dito : "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". Pobre de mim. Com a infância ambientada num mundo folclórico, onde o cientificismo é mito e o popular é lei, cedo aprendi a acreditar nessa baboseira.
.
Com o passar do tempo as coisas começaram a mudar. Nas aulas de geografia física do ensino médio, mineralogia, aprendi que o diamante é a pedra de maior dureza e, nem munindo-me da mais "dura" água, seria possível furar o mais "mole" diamante, por exemplo. Foi por essas aulas que aprendi também que a pedra brita da construção civil tem remota origem no magma. Interessante, não?
.
Independentemente da procedência - que fosse com as científicas aulas de geografia, ou com a vaga sabedoria popular - queria ter aprendido um tanto mais. Todo o conhecimento que acumulara entre a escola e as conversas com a vovó não puderam me alertar a tempo sobre a dureza da pedra Britto, e como no fim de toda história infantil há algo a ser aprendido, essa não poderia ser diferente. Moral da história:

Água mole em Britto dura, tanto bate e nunca fura.

Alguém aí aceita um convite no orkut?

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Velho Violeiro


Dissonâncias mal tocadas -
solitárias, ébrias -
no gelar das calçadas.

Velho violeiro.

O fado errante,
sob o luar pudico,
disseca-lhe o peito inconstante.

Pobre violeiro.

Ainda em vestes degradantes,
o traço da elegância,
acordes embevecentes.

Velho violeiro.


- A imagem que ilustra o texto é de um quadro de Pablo Picasso - "O velho guitarrista" ; "O velho violonista" - tanto faz.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Felicidade

A felicidade é um fone de ouvido Philips.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

El figurante

Depois de um dia matemático – duas provas cá – vejo-me impregnado por senos e cossenos. Meus olhos inevitavelmente saltam à realidade e traduzem-na em relações matemáticas : Uma frustração + uma cerveja = + infinito de idéias ?
.
Seria um dia passado um dia perdido ou um dia ganho? Um olhar negado, um telefonema. Passado. Um coração que bate, sim, e faz tututu, mas bate imitando o telefone, que faz tututu quando ocupado. Passado. Um desejo fingido, forjado. Um desejo. Passado.


...

Que te passa, figurante?
Que te passa?
Sonhas em contracenar com a atriz principal
Quando a ti, ó figurante
Migalhas do espaço cênico cabem.
Que te passa, figurante?
Que te passa?
És tu, dentre muitos, mais um
Que, coitado de ti, ó figurante
Sonha em contracenar com a atriz principal.

domingo, 4 de maio de 2008

Ocupado

Tu, tu, tu - onomatopaico
Tu, tu, tu - pronominal
Tu, tu, tu - indisponível, ocupada
Tu, tu, tu - que nunca me pertenceste, jamais.


...


É bem verdade, a chama ainda queima. Mas em fogo baixo.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Terceira Lei de Niltu

Toda acção provoca uma reacção. Não há como fugir - não é teoria, é Lei. A física já explicava aquilo que , nas relações sociais, alguns seres relutam em não entender. Envoltos por um sentimento que não pode ser denominado senão amor, perdem a noção da fronteira entre seu ego e o mundo exterior - tolos, movidos por tal paixão acreditam que assim podem fundir-se a outro, tornando-se um só.

Minha avó simplesmente diria : PERDEM A VERGONHA NA CARA!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Fogo

E eu que sou tão frio.
Um gelo.
Derreto-me todo.
[ao simples avistar de uma fagulha do teu olhar]

terça-feira, 1 de abril de 2008

Façam suas apostas

Hoje eu vou escrever sobre meus amores. No plural.
.
Eu não me descreveria romântico. Diria que sou bem mais realista, naturalista, pré-modernista, vanguardista europeu, modernista. Romântico não. Mesmo assim, meu universo amoroso realmente se trata de um Universo amoroso. Não sonho com a mulher amada, sonho com aS mulheres amadas.
.
Toda semana sou tomado por um amor novo, diferente. Todos platônicos. Isso porque acredito que a aura do amor - excluído o amor materno, que transcende a questão - só é verdadeiramente bela em duas ocasiões: quando este amor não existe além do campo das idéias, pertence a apenas um dos alguéns do processo, ou quando representado. Circulando longe da órbita da dramaturgia, do cinema e das novelas, não me resta outra opção senão a já anunciada.
.
Assim, vou amando em segredo, na surdina, uma a uma até enjoar - até perceber que de outro modo não há de ser, que não há chance de Amor haver. Coleciono os cacos do coração dilacerado a parcelas. Com o tempo as frustrações foram acumuladas.
" - Façam suas apostas para a loteria sentimental!"
Entretanto, de antemão anuncio: No assunto sou leigo. Só Amo a perspectiva de amar.

terça-feira, 25 de março de 2008

Puta que pariu!

Cansei de ser triste, cara. Cansei. Puta que me pariu! Vou tentar lembrar a época antes do blog.
Puta que o pariu!
(Caso minha professora de redação não tivesse escrito na minha prova uma nota pedindo que redigisse de maneira atemporal, eu começaria meu texto pela seguinte marca : "Depois de nove posts..." Ah, puta que pariu! Aqui eu escrevo como quero.)

...
Depois de nove posts na vida de blogueiro metalingüístico, é inegável que ao menos um benefício já carrego comigo: o hábito de escrever. Confesso que esta face da novidade me alegra o íntimo, a outra é que seriamente me preocupa. Na ânsia pela intelectualidade, claramente expressa desde o primeiro post, fui acometido pela febre bloguística - tornei-me, assim, aquilo que repudio : um escritor amargo, pessimista, rabugento. Puto blog que me pariu!
O fato de ter sempre que analisar as situações, abalar as certezas e pôr algo em crise acaba sugando a alegria de quem escreve. Puta que pariu! Dizem que isso é ser intelectual. Concordando ou não, a verdade é que acabei esquecendo, porém, de evitar agir como tal. Não vou mentir, eu minto. Há tempos que meu "metalingüisticamente falando" já não é tão metalingüístico -no meu raciocínio, tristeza inventada também conta.
Como nunca é tarde pra mudar, hoje, farei diferente. Darei o primeiro passo rumo a uma revigorada intelectualidade, neste post, farei parte de uma outra classe de escritores - a daqueles que narram a vida como ela é, bela como se dá a ver. Tristeza só em outro texto e olhe lá, quando se fizer realmente necessário. Que daqui em diante todos os "puta que pariu" sejam apenas exclamações de alegria!
Puta que pariu, que dia lindo!

P.S. : Tudo bem, eu sei que não consegui fingir que tudo antes disso não é metalingüístico, mas pelo menos eu tentei. puta que pariu.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Habla como quieres, mrs. Potira da Silva

Na falta de tempo - disposição, na verdade - de inventar mais baboseiras metalingüisticas, postarei mais um trabalho escolar. Mediocre aluno do ensino médio. Não reparem na acriticidade.

...
A gramática define vício de linguagem baseado basicamente em três princípios da utilização de mecanismos lingüísticos. Considera vicioso o emprego de estruturas que perturbem a compreensão do discurso, revelem insuficiente domínio do ideal normativo ou tentem conferir originalidade quanto à matriz da língua portuguesa ao indivíduo que se utiliza destas. Este último postulado revela o caráter excessivamente conservador e rígido das prescrições gramaticais, uma vez que não possibilitam a distinção entre erro propriamente dito e discordância de uso, nem propiciam inovações inelutavelmente radicadas.
Estrangeirismo é definido, então, um vício de linguagem caracterizado pelo emprego de expressão ou palavra estrangeira em lugar de um termo correspondente na língua portuguesa. Sua classificação ocorre de acordo com o idioma de origem – francesismo ou galicismo, anglicismo, castelhanismo e italianismo, por exemplo, são as designações para o emprego de palavras derivadas do francês, inglês, espanhol e italiano, respectivamente.
Recentemente foi suscitada por um projeto de lei encabeçado pelo deputado Aldo Rebelo (PC do B – SP) uma discussão sobre a empregabilidade e funcionalidade dos estrangeirismos na língua portuguesa. O projeto, que já foi votado pelo Senado, pretende banir o emprego de estrangeirismos em anúncios publicitários, meios de comunicação, documentos oficiais, letreiros de lojas e restaurantes.
Se o mérito da discussão coubesse apenas às prescrições gramaticais supracitadas, indubitavelmente, o projeto de Aldo seria aprovado, tendo em vista que tanto a gramática quanto o deputado almejam a conservação do idioma português – é forçoso dizer que por diferentes motivos. A gramática enfatiza simplesmente a necessidade do emprego da linguagem de acordo com seus postulados, o deputado, porém, vai além. Enxerga que ao banir os estrangeirismos estaria conservando uma identidade nacional, ameaçada ante a globalização.
Essa visão revela a preocupação do deputado com a auto-estima do povo brasileiro, que dentre outras formas, manifesta-se pela valorização do emprego de idioma oficial. Aldo acredita, portanto, que uma loja qualquer ao fazer uso da expressão on sale, em vez de liquidação, estaria rebaixando sua condição de brasileira por acreditar mais adequado o uso da expressão americanizada.
A questão desconsiderada por Aldo, e por alguns gramáticos modernos defendida, é que os processos de estrangeirismos historicamente constituem uma forma de adequação da língua ao contexto vivido – faz-se notável, na história brasileira, a influência dos idiomas indígenas na formação de palavras, como “igarapé”, por exemplo. Além disso, algumas palavras antes consideradas estrangeirismos agressivos, hoje aportuguesadas soam comuns a qualquer um, como “envelope”, derivada do francês enveloppe.
Desta forma, diante da globalização, marcada pela presença da internet atuando como meio de minimização das fronteiras entre os países e conseqüentemente de intercâmbio entre as línguas, os inevitáveis usos de palavras estrangeiras contribuirão tão somente para o enriquecimento do léxico brasileiro.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Por favor, outros 500

A sociedade brasileira possui enorme débito com a raça negra. É indiscutível. As deploráveis condições em que foram trazidos nos navios negreiros já denunciavam o tipo de tratamento a ser recebido nessas terras. Após cerca de 300 anos de existência oficial, a escravidão, mesmo “abolida”, resultou numa forma de exclusão social tão perversa que alguns negros preferiram continuar cativos a ter uma existência miserável – foi-lhes devolvida a autonomia, sem a preocupação, porém, em dar-lhes condições necessárias para exercerem de fato sua liberdade.
Pode-se dizer, então, que aos negros,ao contrário do que aconteceu a outras raças de imigrantes no Brasil, foram negados os direitos de inclusão e ascensão social, naquela época intimamente relacionados à posse de terras. Hoje, século XXI, a aquisição de um status sócio-econômico é associada não somente à posse de bens, mas principalmente à capacidade de administrá-los e adquiri-los por meio de habilidades e conhecimentos desenvolvidos nas instituições de ensino.
A inserção nas faculdades públicas, inegáveis símbolos de conhecimento, trata-se de mais uma luta dessa raça de guerreiros para que finalmente consigam viver de maneira digna em terras tão longínquas do seu continente de origem. Desta forma, a política de cotas não deve ser analisada de maneira superficial, levando à errônea dedução dessas como um privilégio, uma dádiva ou até como afirmam os mais radicais, um atestado de inferioridade negra.
Um fato relevante nessa questão é que hoje não se fala mais em negros africanos, estrangeiros nesse país, e sim em brasileiros, filhos dessa terra, já identificados com uma cultura distinta. Assim, o Estado de direito, zelando pelo bem-estar geral, deve munir-se de medidas que visem à igualdade de seus concidadãos, ainda que inicialmente aparentem ser desiguais na ótica de alguns grupos. Com efeito, as cotas devem ser encaradas como a demonstração do amadurecimento do Estado brasileiro, em que com o reconhecimento de erros passados pôde condicionar o início de uma reparação histórica assegurando um direito há muito tolhido.
No Brasil nunca houve um presidente negro. Senadores, deputados, médicos, advogados, grandes executivos e tantas outras funções reconhecidas como de prestígio social são exercidas preponderantemente por “brancos”. Lamentavelmente, a imagem do negro é tomada como referência apenas quando se fala em samba, carnaval, trabalho braçal, etc. Salvo raríssimas exceções, essa população hoje constitui a base da pirâmide econômica brasileira – comprovando que ao contrário do que afirmam muitos, a pobreza no Brasil tem cor, sim.
Aos mais polidos fica óbvio que a polêmica engendrada acerca de tal tema não é fruto apenas dos pensamentos daqueles que enxergam inconstitucionalidade nas ações afirmativas. Há muito racismo e politicagem embutidos nas críticas que encabeçam debates em todo o país, muito do orgulho ferido de uma elite cujos interesses foram desmerecidos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

A fronteira entre o dois na mão e o um voando

Disseram por aí um dia : "Quanto maior a altura, maior a queda". A mim me pareceu tão verdade que complementei : Quem tudo pode sonhar, tudo pode perder. A grandiosidade do seu sonho é análoga à queda da decepção.


...


Notei que um número maior de pessoas têm tido o infortúnio de ler meus escritos - honestamente espero que consigam captar a essência destes, cuja intencionalidade não se faz perceptível senão sob a luz da minha ironia contraditória sempre presente. Assim, em atenciosa leitura, percebem como fui acometido por um sentimento de incongruência, uma hipocondria à La mal do século.

Eu resolvi arriscar. Desliguei-me de tudo que me elevava, renunciei à companhia de meus companheiros, deixei os velhos e sai mundo a fora a fim de buscar novos inimigos. Era preciso viver novamente. Apertei o botão vermelho do reset e resolvi jogar a vida em outras bandas. No horizonte havia um pássaro que voava.

E foi na imensidão desse horizonte que me perdi. Achei - me.

sábado, 8 de março de 2008

Lado direito do peito

Tá, eu juro, tento, mas, pelo menos a curto prazo, não consigo extrair felicidade da desgraça. Simplesmente não dá. Lembro-me de quando li Freud explicando sobre a tal felicidade derivativa achei absurdo - para mim desgraça é sinônimo de desgraça. Não gosto de auto-enrolação, de mascarar meu querer a fim de enganar meu ego.
Sem-vergonha os que gostam de apanhar. Um completo sem-vergonha então seria. Adoro sentir meu coração batendo acelerado, metade do lado esquerdo, metade do lado direito - unidade quebrada. Suscitar desgraça da desgraça, talvez uma hora essa brincadeira perca a graça.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Oligocromia

Nos menores frascos estão os melhores perfumes. Sim, eu quem inventou isso.

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Meu mundo verde virou preto. Vermelho, cinza, branco.
Vivo na escuridão da noite, da ardência da contradição, no cinza das cidades, do branco do vazio. Eu nunca gostei mesmo de plantas.
Adorei a escola nova.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Rir pros outros, chorar pra si

Constante inconstância na multidão. Forças opostas que se confrontam numa terrível carência de equilíbrio. A reclusão chama o convívio social, o convívio social chama a reclusão. O isolamento me cansa em seu tédio, na insuportável companhia de mim mesmo. Ainda que ciente da repugnância da sociedade, da vindoura necessidade de voltar a fechar-me em mim, é preciso ter alguém próximo, alguém amigo o suficiente pra dividir a dor da agressão dirigida para si, a dor da solidão.


Rir pros outros, chorar pra si. Adorei a escola nova.


sábado, 9 de fevereiro de 2008

Enterro da moral

Reza a lenda que aqui havia poema tão sem-vergonha ( em todos os sentidos) que o dono sentiu vergonha.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Aborto

Passados alguns dias - leia-se muitos - desde minha primeira aventura literária, cá estou eu novamente. É bem verdade, frustrado por (AINDA) não ter "dado asas à minha suprimida filosofia, resgatado toda a minha veia poética" e conquistado meu tão sonhado status de blogueiro intelectual.
Os conhecidos sabem como é difícil fazer uma rápida dissociação entre a minha figura e a música, e é nela, não na minha figura, e sim na música, que eu venho pedir arrego nessa segunda postagem. Eu, que detesto ter de concordar com qualquer crítico musical, só e somente desta vez, pego carona no mais clichê dos comentários, naquele de que o pesadelo de qualquer um que se atreva a fazer música é o segundo cd. Sem dúvidas, o pesadelo de qualquer blogueiro é a segunda postagem.
Um escrito mal esboçado, não meio, mas muito sem quê e pra quem, mal consegue ser espontâneo, quanto mais original, intelectual e outras boas rimas com "al". Uma banda abortada.
Se essa postagem fosse alvo de uma resenha desses críticos, no mínimo eu passaria de nova salvação do rock a NX Zero.
Desculpem, por hoje é só.