terça-feira, 25 de março de 2008

Puta que pariu!

Cansei de ser triste, cara. Cansei. Puta que me pariu! Vou tentar lembrar a época antes do blog.
Puta que o pariu!
(Caso minha professora de redação não tivesse escrito na minha prova uma nota pedindo que redigisse de maneira atemporal, eu começaria meu texto pela seguinte marca : "Depois de nove posts..." Ah, puta que pariu! Aqui eu escrevo como quero.)

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Depois de nove posts na vida de blogueiro metalingüístico, é inegável que ao menos um benefício já carrego comigo: o hábito de escrever. Confesso que esta face da novidade me alegra o íntimo, a outra é que seriamente me preocupa. Na ânsia pela intelectualidade, claramente expressa desde o primeiro post, fui acometido pela febre bloguística - tornei-me, assim, aquilo que repudio : um escritor amargo, pessimista, rabugento. Puto blog que me pariu!
O fato de ter sempre que analisar as situações, abalar as certezas e pôr algo em crise acaba sugando a alegria de quem escreve. Puta que pariu! Dizem que isso é ser intelectual. Concordando ou não, a verdade é que acabei esquecendo, porém, de evitar agir como tal. Não vou mentir, eu minto. Há tempos que meu "metalingüisticamente falando" já não é tão metalingüístico -no meu raciocínio, tristeza inventada também conta.
Como nunca é tarde pra mudar, hoje, farei diferente. Darei o primeiro passo rumo a uma revigorada intelectualidade, neste post, farei parte de uma outra classe de escritores - a daqueles que narram a vida como ela é, bela como se dá a ver. Tristeza só em outro texto e olhe lá, quando se fizer realmente necessário. Que daqui em diante todos os "puta que pariu" sejam apenas exclamações de alegria!
Puta que pariu, que dia lindo!

P.S. : Tudo bem, eu sei que não consegui fingir que tudo antes disso não é metalingüístico, mas pelo menos eu tentei. puta que pariu.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Habla como quieres, mrs. Potira da Silva

Na falta de tempo - disposição, na verdade - de inventar mais baboseiras metalingüisticas, postarei mais um trabalho escolar. Mediocre aluno do ensino médio. Não reparem na acriticidade.

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A gramática define vício de linguagem baseado basicamente em três princípios da utilização de mecanismos lingüísticos. Considera vicioso o emprego de estruturas que perturbem a compreensão do discurso, revelem insuficiente domínio do ideal normativo ou tentem conferir originalidade quanto à matriz da língua portuguesa ao indivíduo que se utiliza destas. Este último postulado revela o caráter excessivamente conservador e rígido das prescrições gramaticais, uma vez que não possibilitam a distinção entre erro propriamente dito e discordância de uso, nem propiciam inovações inelutavelmente radicadas.
Estrangeirismo é definido, então, um vício de linguagem caracterizado pelo emprego de expressão ou palavra estrangeira em lugar de um termo correspondente na língua portuguesa. Sua classificação ocorre de acordo com o idioma de origem – francesismo ou galicismo, anglicismo, castelhanismo e italianismo, por exemplo, são as designações para o emprego de palavras derivadas do francês, inglês, espanhol e italiano, respectivamente.
Recentemente foi suscitada por um projeto de lei encabeçado pelo deputado Aldo Rebelo (PC do B – SP) uma discussão sobre a empregabilidade e funcionalidade dos estrangeirismos na língua portuguesa. O projeto, que já foi votado pelo Senado, pretende banir o emprego de estrangeirismos em anúncios publicitários, meios de comunicação, documentos oficiais, letreiros de lojas e restaurantes.
Se o mérito da discussão coubesse apenas às prescrições gramaticais supracitadas, indubitavelmente, o projeto de Aldo seria aprovado, tendo em vista que tanto a gramática quanto o deputado almejam a conservação do idioma português – é forçoso dizer que por diferentes motivos. A gramática enfatiza simplesmente a necessidade do emprego da linguagem de acordo com seus postulados, o deputado, porém, vai além. Enxerga que ao banir os estrangeirismos estaria conservando uma identidade nacional, ameaçada ante a globalização.
Essa visão revela a preocupação do deputado com a auto-estima do povo brasileiro, que dentre outras formas, manifesta-se pela valorização do emprego de idioma oficial. Aldo acredita, portanto, que uma loja qualquer ao fazer uso da expressão on sale, em vez de liquidação, estaria rebaixando sua condição de brasileira por acreditar mais adequado o uso da expressão americanizada.
A questão desconsiderada por Aldo, e por alguns gramáticos modernos defendida, é que os processos de estrangeirismos historicamente constituem uma forma de adequação da língua ao contexto vivido – faz-se notável, na história brasileira, a influência dos idiomas indígenas na formação de palavras, como “igarapé”, por exemplo. Além disso, algumas palavras antes consideradas estrangeirismos agressivos, hoje aportuguesadas soam comuns a qualquer um, como “envelope”, derivada do francês enveloppe.
Desta forma, diante da globalização, marcada pela presença da internet atuando como meio de minimização das fronteiras entre os países e conseqüentemente de intercâmbio entre as línguas, os inevitáveis usos de palavras estrangeiras contribuirão tão somente para o enriquecimento do léxico brasileiro.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Por favor, outros 500

A sociedade brasileira possui enorme débito com a raça negra. É indiscutível. As deploráveis condições em que foram trazidos nos navios negreiros já denunciavam o tipo de tratamento a ser recebido nessas terras. Após cerca de 300 anos de existência oficial, a escravidão, mesmo “abolida”, resultou numa forma de exclusão social tão perversa que alguns negros preferiram continuar cativos a ter uma existência miserável – foi-lhes devolvida a autonomia, sem a preocupação, porém, em dar-lhes condições necessárias para exercerem de fato sua liberdade.
Pode-se dizer, então, que aos negros,ao contrário do que aconteceu a outras raças de imigrantes no Brasil, foram negados os direitos de inclusão e ascensão social, naquela época intimamente relacionados à posse de terras. Hoje, século XXI, a aquisição de um status sócio-econômico é associada não somente à posse de bens, mas principalmente à capacidade de administrá-los e adquiri-los por meio de habilidades e conhecimentos desenvolvidos nas instituições de ensino.
A inserção nas faculdades públicas, inegáveis símbolos de conhecimento, trata-se de mais uma luta dessa raça de guerreiros para que finalmente consigam viver de maneira digna em terras tão longínquas do seu continente de origem. Desta forma, a política de cotas não deve ser analisada de maneira superficial, levando à errônea dedução dessas como um privilégio, uma dádiva ou até como afirmam os mais radicais, um atestado de inferioridade negra.
Um fato relevante nessa questão é que hoje não se fala mais em negros africanos, estrangeiros nesse país, e sim em brasileiros, filhos dessa terra, já identificados com uma cultura distinta. Assim, o Estado de direito, zelando pelo bem-estar geral, deve munir-se de medidas que visem à igualdade de seus concidadãos, ainda que inicialmente aparentem ser desiguais na ótica de alguns grupos. Com efeito, as cotas devem ser encaradas como a demonstração do amadurecimento do Estado brasileiro, em que com o reconhecimento de erros passados pôde condicionar o início de uma reparação histórica assegurando um direito há muito tolhido.
No Brasil nunca houve um presidente negro. Senadores, deputados, médicos, advogados, grandes executivos e tantas outras funções reconhecidas como de prestígio social são exercidas preponderantemente por “brancos”. Lamentavelmente, a imagem do negro é tomada como referência apenas quando se fala em samba, carnaval, trabalho braçal, etc. Salvo raríssimas exceções, essa população hoje constitui a base da pirâmide econômica brasileira – comprovando que ao contrário do que afirmam muitos, a pobreza no Brasil tem cor, sim.
Aos mais polidos fica óbvio que a polêmica engendrada acerca de tal tema não é fruto apenas dos pensamentos daqueles que enxergam inconstitucionalidade nas ações afirmativas. Há muito racismo e politicagem embutidos nas críticas que encabeçam debates em todo o país, muito do orgulho ferido de uma elite cujos interesses foram desmerecidos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

A fronteira entre o dois na mão e o um voando

Disseram por aí um dia : "Quanto maior a altura, maior a queda". A mim me pareceu tão verdade que complementei : Quem tudo pode sonhar, tudo pode perder. A grandiosidade do seu sonho é análoga à queda da decepção.


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Notei que um número maior de pessoas têm tido o infortúnio de ler meus escritos - honestamente espero que consigam captar a essência destes, cuja intencionalidade não se faz perceptível senão sob a luz da minha ironia contraditória sempre presente. Assim, em atenciosa leitura, percebem como fui acometido por um sentimento de incongruência, uma hipocondria à La mal do século.

Eu resolvi arriscar. Desliguei-me de tudo que me elevava, renunciei à companhia de meus companheiros, deixei os velhos e sai mundo a fora a fim de buscar novos inimigos. Era preciso viver novamente. Apertei o botão vermelho do reset e resolvi jogar a vida em outras bandas. No horizonte havia um pássaro que voava.

E foi na imensidão desse horizonte que me perdi. Achei - me.

sábado, 8 de março de 2008

Lado direito do peito

Tá, eu juro, tento, mas, pelo menos a curto prazo, não consigo extrair felicidade da desgraça. Simplesmente não dá. Lembro-me de quando li Freud explicando sobre a tal felicidade derivativa achei absurdo - para mim desgraça é sinônimo de desgraça. Não gosto de auto-enrolação, de mascarar meu querer a fim de enganar meu ego.
Sem-vergonha os que gostam de apanhar. Um completo sem-vergonha então seria. Adoro sentir meu coração batendo acelerado, metade do lado esquerdo, metade do lado direito - unidade quebrada. Suscitar desgraça da desgraça, talvez uma hora essa brincadeira perca a graça.