quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Corridas

Corre, corre, corre
Mente obnubilada
Corre
Sente o peito
O ar
Iansã que entra cheia de vigor
Pelos teus pulmões corroídos de tabaco

Corre
Que a vida é mais bonita em endorfina
Corre que é melhor do que parar

Corre por nada
e pela vida inteira,
até amanhã.

Corre
E tropeça na cidade desengonçada
Com jeito de quem quer ser grande

Corre
E esbarra na serpente
Fedendo a merda na lagoa da Jansen

Corre por tudo
E pela vida inteira até amanhã
Contrai o futuro
Estica o presente

Corre com o sol ardendo as moleiras,
sente o peito
e o ar recém-poluído

Corre, corre
Pro carnaval chegar magro
E a folia chegar gorda

Corre
Para transcender o mundo
Com os pés no chão

Corre
para sentir em ritmo e compasso
A própria respiração

Corre, corre, corre

Por qualquer coisa
E pela vida inteira,
até amanhã.
Até chegar iansã
cheia de vigor pelos teus pulmões corroídos de tabaco.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Canto de Banzo

Ê, Negro banzo!

Que come pouco, rapaz
Já não tem mais fome...
E quase não bebe, ó nêgo,
tu é das cachaça!

Ê, Negro banzo!

Que calou teu pinho, rapaz
Cadê tua viola...
E que canta rouco, ó nego,
Tua voz é limpa!

- Tem braço forte, furinhos nas costas,
rendeu sol e lua e ainda quer voar.
Aquela moça, cumpadi,
Não tem nem diabo
que se preste a zelar.

Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Ê, negro banzo!
Bendita seja a moça,
que é das mais prendadas,
e deus há de guardar sua saga.

Agora de ti,
Que banzo nada.

Tu não faz assim,
Tu não é assim,
Tu é mais pra frente!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Querida,

Querida,
preciso, de fato,
voltar a escrever.
Teus atos mastigam
Neurônios sem pena.

Em livres gestos, palavras
silêncios
-Agora não, posto não ser hora.
Em livre canto, dança,
rebolado que me falta,
- mais que livres!
Eis me inteiramente mastigado.

Teus atos mastigam
Neurônios sem pena.

Eu sei, nada são além de atos feitos,
repetidos e passados pra trás
por outros atos iguais.
Mas mastigam, instigam
e, quem sabe,
até reflitam dores de outrora.

Que ao menos os rumine insistente
em poemas!
Preciso, de fato,
voltar a escrever.