terça-feira, 3 de julho de 2012
Vesti uma camisa desquarada
pra trabalhar
é besta
porque gosto que só dela
e fico pensando se vão me ver
mais burro pobre feio desleixado
só por causa duma
camisa lavada.
Hoje eu escrevi sobre
uma coisa banal
sem ser o amar.
'-Vesti uma camisa desquarada!'
Isso, eu estou vivo.
eu fumo, sabe
não preciso viver muito
como todo mundo
tenho agonias de que não sei tratar
mas fumo e roo unha até o toco
já rui do pé
não vou mentir
pena que hoje não alcanço
fumar às vezes é bom
às vezes não é
tem dias que me censuram
e dizem que fedo
vou morrer cedo
minha ex até gostava do cheiro
o que estranho, porque fede mesmo.
tenho agonias de que não sei tratar
como todo mundo
e roo unha
e fumo.
terça-feira, 12 de junho de 2012
não conseguem calar
Tinha um riso farto
todo todo murcho
um jeito infeliz
de quem é amada
e uma companhia
quase desejada.
Quase se desejam -
antes abusam um do outro.
Por conveniência
diz-lhe que é profundo
- provavelmente
falava do tédio
Papo de alcova
surge quase nada
hora ou outra até esboçam uma risada
cansaço trabalho tempo tédio
sono.
Covarde fode rápido
diz que foi
gozou mais de uma
e chorando pela covardia
de ter sido quase
dorme.
Não quer acordar.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
E quando não restar saída solução
ou sanidade
Deus livre da pretensão de ser inesquecível!
contente de si sendo memória.
refluxo do eterno e fragmento de vida. recorte.
lembrável, é verdade
mas também
esquecível.
quarta-feira, 7 de março de 2012
I
Poetas não se vestem de poeta
como médicos que saem a trabalhar
cheios de si em
trajes brancos .
Poetas não se vestem de poeta
como fazem os juristas
pomposos em
roupas abestadas .
Não se vestem de poeta
com a gente
simples
em uniformes - cara do patrão, cara da empresa .
Muito menos se vestem de poeta
como os ansiosos pelos ditames da última
moda .
Não, poetas não .
II
Poetas não se vestem de poeta
porque a sombra do cajueiro
era o repouso mais agradável do
CCSo e em seu lugar
construíram uma rampa
porque sentar na ágora do
CCH te faz parecer mais sábio
porque, até hoje, a PedeGinja
nunca tocou na UFMA ...
Poetas não se vestem de poeta
porque as rodas-de-samba sempre
são redondas no quintal lá de casa
porque as noites no INCULCAAR
sempre serão mágicas
porque as Confrarias vão rolar até que
no horizonte
o céu se distingua do mar ...
Poetas não se vestem de poeta
porque teu andar de lado
pulante e altivo
se tornou fotografia
porque a fita lilás em teu braço forte
te faz parecer frágil
porque os lençóis suados e quentes
ainda exalam nossos odores ...
Poetas não se vestem de poeta
porque ______________________________
_______________________________
______________________________ ...
III
Poetas saem às ruas .
ou ficam em casa .
nus .
quinta-feira, 1 de março de 2012
Passara tanto fluxo
tanto sentimento
e foram só uns quatro tempos
Uns quatro mil
momentos
para não enquadrar
o tempo
em dias que me atormento
E quanta poesia
quanto afago
visitei
E quanto tuas danças
me embalam as lembranças
E todos os teus laços
que desato a sorrir
e todos os instantes
que vivi dentro de ti
Passara tanto fluxo
e tanto sentimento
enfim,
só foram quatro
tempos
.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Que lugar ingrato!
Que lugar canalha!
Eu que te falo
eu que te vejo
e tu que parada me tem
em mãos.
Que lugar canalha!
que lugar ingrato!
E se calo
teu silêncio môco me perturba
mais do que qualquer carão.
Sou eu o lugar de tua carência
de teu segundo frágil que não volta em dias
do vácuo doído que o outro deixou...
-É tudo pouco pelo meu sossego!
Eu quero o desejo castrado
que te faz formigar
quero ser o motivo
de tua insônia constante
quero o vôo mais alto
que teus pensamentos!
Voa comigo
e não falo nada em vão...
Vem, que calo um silêncio
mais sábio que todos os monges da terra
que todos os poetas da ágora
- Que todas as almas depenadas de paixão!
Mas tem que vir
e me dar a mão
ou, então, me enterra de vez
neste lugar
ingrato!
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Presente,
colado bucho a bucho,
revejo todo o desejo que ganha ímpeto.
O bananal é estrume
todo aire é alento
nosso absurdo
é patente.
Vitórias-régias gigantes?
Borboletas azuis a nos guiar rio abaixo?
Desacato à realidade!
Tocarão todas as baladas
e todas as badaladas of anyone
e pouco importará se
o lado é b ou a.
As cóssegas machucam
como um soco nos culhões
a doer até os recônditos de minha
alma masculina.
Ainda assim,
com ternura,
quis comê-la a cada dedo
que encosta em mim.
Entre o bom dia
e o boa noite
Uma lua, chuva e loucura.
O sol veio nascendo preguiçoso
como se dissesse
que o dia não precisa ser alegre.
(Na verdade, parece saber bem quão belos são os dias nublados).
Logo cedo me perfumo
E passeio de mãos dadas com minha querida
Inveja.
Incompetências e frustrações aparecem
bambas em lances súbitos
e, em vão,
corro a ler um livro que
não me deixará mais
sábio.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Vi uma moça passando
lenta como um cigarro que queima sem vento
quis que fosse
e não era
tu.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
por um distanciamento racionalmente... apaixonado
Não há de falar nada.
Só o silêncio basta
pra ouvir se a voz ainda afirma
-desejo!
Só o silêncio basta
para saber se a boca paraliza
ao lembrar de teu beijo.
O silêncio basta
se lá
longe onde tu não anda
alguém se esquece de ti ao cruzar a esquina.
Basta.
É novo
paga por tagarela
ansioso.
Também há silêncios que
precisam ser ditos.
Mas usa tanta palavra
pelo prazer de falar, sentimental.
Não foge da ratio...
Não foge da raia...
E cala!
Pois há dias de falar nada.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Corre, corre, corre
Mente obnubilada
Corre
Sente o peito
O ar
Iansã que entra cheia de vigor
Pelos teus pulmões corroídos de tabaco
Corre
Que a vida é mais bonita em endorfina
Corre que é melhor do que parar
Corre por nada
e pela vida inteira,
até amanhã.
Corre
E tropeça na cidade desengonçada
Com jeito de quem quer ser grande
Corre
E esbarra na serpente
Fedendo a merda na lagoa da Jansen
Corre por tudo
E pela vida inteira até amanhã
Contrai o futuro
Estica o presente
Corre com o sol ardendo as moleiras,
sente o peito
e o ar recém-poluído
Corre, corre
Pro carnaval chegar magro
E a folia chegar gorda
Corre
Para transcender o mundo
Com os pés no chão
Corre
para sentir em ritmo e compasso
A própria respiração
Corre, corre, corre
Por qualquer coisa
E pela vida inteira,
até amanhã.
Até chegar iansã
cheia de vigor pelos teus pulmões corroídos de tabaco.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Ê, Negro banzo!
Que come pouco, rapaz
Já não tem mais fome...
E quase não bebe, ó nêgo,
tu é das cachaça!
Ê, Negro banzo!
Que calou teu pinho, rapaz
Cadê tua viola...
E que canta rouco, ó nego,
Tua voz é limpa!
- Tem braço forte, furinhos nas costas,
rendeu sol e lua e ainda quer voar.
Aquela moça, cumpadi,
Não tem nem diabo
que se preste a zelar.
Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Ê, negro banzo!
Bendita seja a moça,
que é das mais prendadas,
e deus há de guardar sua saga.
Agora de ti,
Que banzo nada.
Tu não faz assim,
Tu não é assim,
Tu é mais pra frente!
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Querida,
preciso, de fato,
voltar a escrever.
Teus atos mastigam
Neurônios sem pena.
Em livres gestos, palavras
silêncios
-Agora não, posto não ser hora.
Em livre canto, dança,
rebolado que me falta,
- mais que livres!
Eis me inteiramente mastigado.
Teus atos mastigam
Neurônios sem pena.
Eu sei, nada são além de atos feitos,
repetidos e passados pra trás
por outros atos iguais.
Mas mastigam, instigam
e, quem sabe,
até reflitam dores de outrora.
Que ao menos os rumine insistente
em poemas!
Preciso, de fato,
voltar a escrever.