quarta-feira, 19 de março de 2008

Por favor, outros 500

A sociedade brasileira possui enorme débito com a raça negra. É indiscutível. As deploráveis condições em que foram trazidos nos navios negreiros já denunciavam o tipo de tratamento a ser recebido nessas terras. Após cerca de 300 anos de existência oficial, a escravidão, mesmo “abolida”, resultou numa forma de exclusão social tão perversa que alguns negros preferiram continuar cativos a ter uma existência miserável – foi-lhes devolvida a autonomia, sem a preocupação, porém, em dar-lhes condições necessárias para exercerem de fato sua liberdade.
Pode-se dizer, então, que aos negros,ao contrário do que aconteceu a outras raças de imigrantes no Brasil, foram negados os direitos de inclusão e ascensão social, naquela época intimamente relacionados à posse de terras. Hoje, século XXI, a aquisição de um status sócio-econômico é associada não somente à posse de bens, mas principalmente à capacidade de administrá-los e adquiri-los por meio de habilidades e conhecimentos desenvolvidos nas instituições de ensino.
A inserção nas faculdades públicas, inegáveis símbolos de conhecimento, trata-se de mais uma luta dessa raça de guerreiros para que finalmente consigam viver de maneira digna em terras tão longínquas do seu continente de origem. Desta forma, a política de cotas não deve ser analisada de maneira superficial, levando à errônea dedução dessas como um privilégio, uma dádiva ou até como afirmam os mais radicais, um atestado de inferioridade negra.
Um fato relevante nessa questão é que hoje não se fala mais em negros africanos, estrangeiros nesse país, e sim em brasileiros, filhos dessa terra, já identificados com uma cultura distinta. Assim, o Estado de direito, zelando pelo bem-estar geral, deve munir-se de medidas que visem à igualdade de seus concidadãos, ainda que inicialmente aparentem ser desiguais na ótica de alguns grupos. Com efeito, as cotas devem ser encaradas como a demonstração do amadurecimento do Estado brasileiro, em que com o reconhecimento de erros passados pôde condicionar o início de uma reparação histórica assegurando um direito há muito tolhido.
No Brasil nunca houve um presidente negro. Senadores, deputados, médicos, advogados, grandes executivos e tantas outras funções reconhecidas como de prestígio social são exercidas preponderantemente por “brancos”. Lamentavelmente, a imagem do negro é tomada como referência apenas quando se fala em samba, carnaval, trabalho braçal, etc. Salvo raríssimas exceções, essa população hoje constitui a base da pirâmide econômica brasileira – comprovando que ao contrário do que afirmam muitos, a pobreza no Brasil tem cor, sim.
Aos mais polidos fica óbvio que a polêmica engendrada acerca de tal tema não é fruto apenas dos pensamentos daqueles que enxergam inconstitucionalidade nas ações afirmativas. Há muito racismo e politicagem embutidos nas críticas que encabeçam debates em todo o país, muito do orgulho ferido de uma elite cujos interesses foram desmerecidos.

3 comentários:

Juliana disse...

Racismo? Isso não existe no Brasil, meu caro amigo.

Solitude disse...

tu melhora mais a cada dia que passa, eu já sabia que tu escreveria um texto desses uma hora ou outra.

Bia Rodriguez disse...

eu amo oq ele escreve.
demais