segunda-feira, 24 de março de 2008

Habla como quieres, mrs. Potira da Silva

Na falta de tempo - disposição, na verdade - de inventar mais baboseiras metalingüisticas, postarei mais um trabalho escolar. Mediocre aluno do ensino médio. Não reparem na acriticidade.

...
A gramática define vício de linguagem baseado basicamente em três princípios da utilização de mecanismos lingüísticos. Considera vicioso o emprego de estruturas que perturbem a compreensão do discurso, revelem insuficiente domínio do ideal normativo ou tentem conferir originalidade quanto à matriz da língua portuguesa ao indivíduo que se utiliza destas. Este último postulado revela o caráter excessivamente conservador e rígido das prescrições gramaticais, uma vez que não possibilitam a distinção entre erro propriamente dito e discordância de uso, nem propiciam inovações inelutavelmente radicadas.
Estrangeirismo é definido, então, um vício de linguagem caracterizado pelo emprego de expressão ou palavra estrangeira em lugar de um termo correspondente na língua portuguesa. Sua classificação ocorre de acordo com o idioma de origem – francesismo ou galicismo, anglicismo, castelhanismo e italianismo, por exemplo, são as designações para o emprego de palavras derivadas do francês, inglês, espanhol e italiano, respectivamente.
Recentemente foi suscitada por um projeto de lei encabeçado pelo deputado Aldo Rebelo (PC do B – SP) uma discussão sobre a empregabilidade e funcionalidade dos estrangeirismos na língua portuguesa. O projeto, que já foi votado pelo Senado, pretende banir o emprego de estrangeirismos em anúncios publicitários, meios de comunicação, documentos oficiais, letreiros de lojas e restaurantes.
Se o mérito da discussão coubesse apenas às prescrições gramaticais supracitadas, indubitavelmente, o projeto de Aldo seria aprovado, tendo em vista que tanto a gramática quanto o deputado almejam a conservação do idioma português – é forçoso dizer que por diferentes motivos. A gramática enfatiza simplesmente a necessidade do emprego da linguagem de acordo com seus postulados, o deputado, porém, vai além. Enxerga que ao banir os estrangeirismos estaria conservando uma identidade nacional, ameaçada ante a globalização.
Essa visão revela a preocupação do deputado com a auto-estima do povo brasileiro, que dentre outras formas, manifesta-se pela valorização do emprego de idioma oficial. Aldo acredita, portanto, que uma loja qualquer ao fazer uso da expressão on sale, em vez de liquidação, estaria rebaixando sua condição de brasileira por acreditar mais adequado o uso da expressão americanizada.
A questão desconsiderada por Aldo, e por alguns gramáticos modernos defendida, é que os processos de estrangeirismos historicamente constituem uma forma de adequação da língua ao contexto vivido – faz-se notável, na história brasileira, a influência dos idiomas indígenas na formação de palavras, como “igarapé”, por exemplo. Além disso, algumas palavras antes consideradas estrangeirismos agressivos, hoje aportuguesadas soam comuns a qualquer um, como “envelope”, derivada do francês enveloppe.
Desta forma, diante da globalização, marcada pela presença da internet atuando como meio de minimização das fronteiras entre os países e conseqüentemente de intercâmbio entre as línguas, os inevitáveis usos de palavras estrangeiras contribuirão tão somente para o enriquecimento do léxico brasileiro.

2 comentários:

Juliana disse...

Tema da próxima redação "Minhas férias".

João Paulo disse...

Ai meus olhos.

O texto tá legal, cara.
Bjs.