terça-feira, 3 de julho de 2012

Cores lavadas


Vesti uma camisa desquarada
pra trabalhar
é besta
porque gosto que só dela
e fico pensando se vão me ver
mais burro pobre feio desleixado
só por causa duma
camisa lavada.

Redenção


Hoje eu escrevi sobre
uma coisa banal
sem ser o amar.

'-Vesti uma camisa desquarada!'
Isso, eu estou vivo.


eu fumo, sabe
não preciso viver muito

como todo mundo
tenho agonias de que não sei tratar
mas fumo e roo unha até o toco

já rui do pé
não vou mentir
pena que hoje não alcanço

fumar às vezes é bom
às vezes não é
tem dias que me censuram
e dizem que fedo
vou morrer cedo

minha ex até gostava do cheiro
o que estranho, porque fede mesmo.

tenho agonias de que não sei tratar
como todo mundo
e roo unha
e fumo.


vou te usar por todas
e pedir desculpas
às boas namoradas

o mais bonito que
consigo pensar é o cotidiano
dum abraço apertado vendo
filme e transando nas partes
chatas, de uma entrega meio acabrunhada
porque todo filme tem parte chata.

Pode ser lindo também, bem.

Prometo que vou querer te ver
todo fim de tarde e toda tarde
vai ser mais bonita pensando em te ver.

Bem que eu queria
e tu merecia
um texto com meu juízo perturbado
só pela tua presença
mas então não seria uma namorada

eu não iria fazer nada
refletindo sobre amar e o sentido da existência
iria me deprimir me isolar
te comer com mais ímpeto quando conseguisse te comer
perder o juízo fazer loucura

só que nada disso tem graça.

Deixa hollywood pra lá.

Eu peço desculpa
se a obra mais bonita foi dela
mas, de verdade,
prefiro as boas namoradas.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Reencontro III


Não quer acordar
Dorme finge e dorme de novo
Sente frio com o sol escaldante
e se cobre.

Tinha uma companhia
Quase desejada
Pouco fala, mas
agora mente mais.

Mentem ambos
e ambos sabem que ambos mentem
e até acreditam.

São profundos
Por se permitirem falar
Deveriam ter dito antes
precipitados
empolgados
vigorosos.

Maduros
não conseguem calar
São banais
Eu te amo.

Reencontro II

silêncio. até então não aprendera a calar. é covarde demais pra ensurdecer no silêncio, para se deixar silenciar. prefere falar. e o silêncio é tensão é, quiçá, tesão, incongruência, afinidade, incompreensão. o ar estava repleto de silêncio e sabiam que diziam tudo que merecia ser dito, eram sinceros no seu silêncio, no tédio um do outro, na falta de sentido, no fim. o melhor era silêncio. mas até então não aprendera a calar, e como não havia nada a ser dito, banal precipitou uma palavra.

acabou a sinceridade, ambos se abraçaram, se amaram e mentiram felizes.

Reencontro I

Tinha um riso farto
todo todo murcho
um jeito infeliz
de quem é amada
e uma companhia
quase desejada.

Quase se desejam -
antes abusam um do outro.
Por conveniência
diz-lhe que é profundo
- provavelmente
falava do tédio

Papo de alcova
surge quase nada
hora ou outra até esboçam uma risada
cansaço trabalho tempo tédio
sono.

Covarde fode rápido
diz que foi gozou mais de uma
e chorando pela covardia de ter sido quase
dorme.

Não quer acordar.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Epitáfio

E quando não restar saída solução
ou sanidade
Deus livre da pretensão de ser inesquecível!
contente de si sendo memória.
refluxo do eterno e fragmento de vida. recorte.
lembrável, é verdade
mas também
esquecível.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Das vestes e outras coisas

I

Poetas não se vestem de poeta
como médicos que saem a trabalhar
cheios de si em
trajes brancos .

Poetas não se vestem de poeta
como fazem os juristas
pomposos em
roupas abestadas .

Não se vestem de poeta
com a gente
simples
em uniformes - cara do patrão, cara da empresa .

Muito menos se vestem de poeta
como os ansiosos pelos ditames da última
moda .

Não, poetas não .

II
Poetas não se vestem de poeta
porque a sombra do cajueiro
era o repouso mais agradável do
CCSo e em seu lugar
construíram uma rampa
porque sentar na ágora do
CCH te faz parecer mais sábio
porque, até hoje, a PedeGinja
nunca tocou na UFMA ...

Poetas não se vestem de poeta
porque as rodas-de-samba sempre
são redondas no quintal lá de casa
porque as noites no INCULCAAR
sempre serão mágicas
porque as Confrarias vão rolar até que
no horizonte
o céu se distingua do mar ...

Poetas não se vestem de poeta
porque teu andar de lado
pulante e altivo
se tornou fotografia
porque a fita lilás em teu braço forte
te faz parecer frágil
porque os lençóis suados e quentes
ainda exalam nossos odores ...

Poetas não se vestem de poeta
porque ______________________________
_______________________________
______________________________ ...

III
Poetas saem às ruas .
ou ficam em casa .
nus .

quinta-feira, 1 de março de 2012

saudade e tormento

Passara tanto fluxo
tanto sentimento
e foram só uns quatro tempos

Uns quatro mil
momentos
para não enquadrar
o tempo
em dias que me atormento

E quanta poesia
quanto afago
visitei
E quanto tuas danças
me embalam as lembranças

E todos os teus laços
que desato a sorrir
e todos os instantes
que vivi dentro de ti

Passara tanto fluxo
e tanto sentimento
enfim,
só foram quatro
tempos
.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Meu lugar

Que lugar ingrato!
Que lugar canalha!

Eu que te falo
eu que te vejo
e tu que parada me tem
em mãos.

Que lugar canalha!
que lugar ingrato!

E se calo
teu silêncio môco me perturba
mais do que qualquer carão.

Sou eu o lugar de tua carência
de teu segundo frágil que não volta em dias
do vácuo doído que o outro deixou...

-É tudo pouco pelo meu sossego!

Eu quero o desejo castrado
que te faz formigar
quero ser o motivo
de tua insônia constante
quero o vôo mais alto
que teus pensamentos!

Voa comigo
e não falo nada em vão...

Vem, que calo um silêncio
mais sábio que todos os monges da terra
que todos os poetas da ágora
- Que todas as almas depenadas de paixão!

Mas tem que vir
e me dar a mão
ou, então, me enterra de vez
neste lugar
ingrato!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Yes, you know me

Presente,
colado bucho a bucho,
revejo todo o desejo que ganha ímpeto.

O bananal é estrume
todo aire é alento
nosso absurdo
é patente.

Vitórias-régias gigantes?
Borboletas azuis a nos guiar rio abaixo?
Desacato à realidade!

Tocarão todas as baladas
e todas as badaladas of anyone
e pouco importará se
o lado é b ou a.

As cóssegas machucam
como um soco nos culhões
a doer até os recônditos de minha
alma masculina.

Ainda assim,
com ternura,
quis comê-la a cada dedo
que encosta em mim.

Matinal

Entre o bom dia
e o boa noite
Uma lua, chuva e loucura.

O sol veio nascendo preguiçoso
como se dissesse
que o dia não precisa ser alegre.

(Na verdade, parece saber bem quão belos são os dias nublados).

Logo cedo me perfumo
E passeio de mãos dadas com minha querida
Inveja.

Incompetências e frustrações aparecem
bambas em lances súbitos
e, em vão,
corro a ler um livro que
não me deixará mais
sábio.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Fumando

Vi uma moça passando
lenta como um cigarro que queima sem vento
quis que fosse
e não era
tu.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Silêncio

por um distanciamento racionalmente... apaixonado

Não há de falar nada.
Só o silêncio basta
pra ouvir se a voz ainda afirma
-desejo!

Só o silêncio basta
para saber se a boca paraliza
ao lembrar de teu beijo.

O silêncio basta
se lá
longe onde tu não anda
alguém se esquece de ti ao cruzar a esquina.

Basta.

É novo
paga por tagarela
ansioso.

Também há silêncios que
precisam ser ditos.
Mas usa tanta palavra
pelo prazer de falar, sentimental.

Não foge da ratio...
Não foge da raia...

E cala!
Pois há dias de falar nada.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Corridas

Corre, corre, corre
Mente obnubilada
Corre
Sente o peito
O ar
Iansã que entra cheia de vigor
Pelos teus pulmões corroídos de tabaco

Corre
Que a vida é mais bonita em endorfina
Corre que é melhor do que parar

Corre por nada
e pela vida inteira,
até amanhã.

Corre
E tropeça na cidade desengonçada
Com jeito de quem quer ser grande

Corre
E esbarra na serpente
Fedendo a merda na lagoa da Jansen

Corre por tudo
E pela vida inteira até amanhã
Contrai o futuro
Estica o presente

Corre com o sol ardendo as moleiras,
sente o peito
e o ar recém-poluído

Corre, corre
Pro carnaval chegar magro
E a folia chegar gorda

Corre
Para transcender o mundo
Com os pés no chão

Corre
para sentir em ritmo e compasso
A própria respiração

Corre, corre, corre

Por qualquer coisa
E pela vida inteira,
até amanhã.
Até chegar iansã
cheia de vigor pelos teus pulmões corroídos de tabaco.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Canto de Banzo

Ê, Negro banzo!

Que come pouco, rapaz
Já não tem mais fome...
E quase não bebe, ó nêgo,
tu é das cachaça!

Ê, Negro banzo!

Que calou teu pinho, rapaz
Cadê tua viola...
E que canta rouco, ó nego,
Tua voz é limpa!

- Tem braço forte, furinhos nas costas,
rendeu sol e lua e ainda quer voar.
Aquela moça, cumpadi,
Não tem nem diabo
que se preste a zelar.

Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Ê, negro banzo!
Bendita seja a moça,
que é das mais prendadas,
e deus há de guardar sua saga.

Agora de ti,
Que banzo nada.

Tu não faz assim,
Tu não é assim,
Tu é mais pra frente!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Querida,

Querida,
preciso, de fato,
voltar a escrever.
Teus atos mastigam
Neurônios sem pena.

Em livres gestos, palavras
silêncios
-Agora não, posto não ser hora.
Em livre canto, dança,
rebolado que me falta,
- mais que livres!
Eis me inteiramente mastigado.

Teus atos mastigam
Neurônios sem pena.

Eu sei, nada são além de atos feitos,
repetidos e passados pra trás
por outros atos iguais.
Mas mastigam, instigam
e, quem sabe,
até reflitam dores de outrora.

Que ao menos os rumine insistente
em poemas!
Preciso, de fato,
voltar a escrever.