terça-feira, 7 de dezembro de 2010

seis do doze do dez


Puseram olho-gordo
na véspera do aniversário
o corpo era uma moleza
misto de canseira
e preguiça
tipo doze horas de sono até seis do doze -
data de ano novo.

quando amanheceu foi
logo um bom dia
acompanhado de
muitos anos de vida
que se repetiram sem criatividade
ao longo do dia.

É bem verdade,
alguns muito honrados.

Mas bem que podia
ter um olho-gordo no meio
para fazer dormir mais
doze horas
até amanhecer
sete.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Cu


Há meia hora
procuro eufemismos
para descrever
a gordinha a loirinha
a negra a baixinha
a morena a magrinha
que passam seduzindo
a ágora.

Vovó que é feliz -
me diz que falar
cu é decente.


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Quase um Bandeira


Ombro esquerdo mais alto
hiperlordose lombar
Musculatura enfraquecida.

Dor nas costas.

A longo prazo recomendo
ajeitar postura;
a curto
tomar droga e repouso.

Senhor,
posso me embalar na rede?

Só se tu não quiser saúde.

Opacidade


Trago um poema
engasgado há dias
entre o cansaço cotidiano
e o atestado de minhas múltiplas incompetências.

A opacidade do poeta
também translucida
poesia?

Não hoje.

Este papel é uma farsa
em todo e qualquer rabisco.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sonho de Sagitário


Numa mesa de fast-food
aprendi
a mentir que
acredito na previsão dos astros.

Teve uma música do Guizado
e gostei
do sonho de sagitário.

De repente eu sou trompete
caótico entre
alegria e mau humor,
uma flecha que alcança a meta
ou a própria metafísica do humano
sobre as patas de cavalo.
Sou o ideal de justiça e
a aventura incessante...

Eu sou,
Porra nenhuma
ou qualquer coisa.

Sob a benção dos astros
o mesmo peito inquieto,
o mesmo sonho intranqüilo.

Mau humor II


E surge rapidinho,
assim como quem não quer nada,
numa pintura cotidianista.

Não manda eu lavar louça
que já vou,
só acabar de comer.

Estresse.

Meu mau humor é
uma resposta atravessada.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Falamá


Os minutos na madrugada
valem xícaras de
café amargo,
pontadas no refluxo e
uns rabiscos aleatórios.

Me custa admitir que
a genialidade não sentará comigo à mesa.

Poesia,
Se não me tornar lembrado por muito,
ao menos embale tranqüilo esta noite...

Ditado sem tardar
ou falhar,
De tanto dizer
Agosto

língua quebrou caroço
calou sozinha na agonia
e Foi setembro
quieta, quietinha...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Adolescência

Confiram o texto lá n'Os Salvadores Daqui'. Ao fuleiríssimo Rômulo Pacheco.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Fins de agosto

Era uma vez
um desenho japonês
e uma rima sem querer

e toda a confusão
do mês de Agosto
com um dedinho de
santa saliença divina.

Que seja a gosto de Deus,
me disseram...
só parece que Deus
fica travesso em Agosto.
Parece até que sabe
que eu gosto de ser
assim
entre gosto e desgosto.

Era uma vez
nem combina com
desenho japonês
mas rima
e hoje é o último dia do mês
de Agosto.

Deus sabe de tudo, não?

Se é mês de Agosto,
mau humor.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Verão

Lá n'Os Salvadores vocês verão.

Alvorada II

O dia amanheceu belíssimo
com o pensar
em ti, levanto da rede
de todo meu mau humor
de todo meu cansaço.

É tu que me sabe
sem passeios e sem floreios
sem perfume e dinheiro.

O sol leve do café
amanhece já soberbo e
pouco se importa -
e eu também não me importo -
Drummond
que durma tranqüilo no túmulo!

Mas ele muito gostaria...

O dia amanheceu belíssimo.

Alvorada I

O mesmo dia
são dois dias
e cada dia
um amanhecer.

Um dia
é dever programado
Outro dia
desejo castrado

( Entre os dias
não há qualquer fronteira
de tempo, espaço, história.
Se misturam imoralmente
num primeiro gole de café com leite
entre mordidas no beiju feito por vovó).

Mau humor

Hoje não preciso
de mais palavras
para exprimir o que
sinto.
Talvez precise sentir
mais ou
melhor.

Meu mau humor é
um texto inconcluso.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Papo de fila

Vixe, parece que vai custar...
mulher com bocão de Cléo Pires assuntando
Hein hein
respondi mentalmente
Se ao menos tu fosse a própria Cléo eu até puxava uma conversa.

(Passa gente
passa passa gente
passa tempo)

Não é que tá custando mesmo?

Os livros na mochila não
curam carência de fila.
mais,
não tem concentração que agüente
tanta gente passando.

Uma trégua -
de Cléo pra Cléo são só uns pneuzinhos...




- Cléo?

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Invejoso

Quarta
um dia com cara
de quarta
e as formigas arrastam um espinhaço de peixe na parede

Vejam
um espinhaço de peixe na parede

Invejoso que só
- ai como se concentram indiferentes!
me deixo atrapalhar pelo
pop brega internacional do vizinho

Acato a pausa forçada
me aproprio do refresco
e passeio provocado pela rede

Eis o embalo!,
eis o amparo...

Desejos ?
sonhos ?
poesia .

quarta-feira, 30 de junho de 2010


Como lá me vou
saber se entretudo ou entrenada
entralguma coisa?

Apostarei, entretanto
ser um quase-convite à teorização dos dizeres do poeta-mirim da rua 14:
"um fuio dentro doutro fuio".

Ainda não estou tão tanto.

Se são só umas três palavras sábias de
vago sentido
ou de presunção da nossa burrice alheia,
me questiono...

E lá como vou saber
se no final da reza elas dizem
nada!?

Metafísica íntimo-literária,
na pós-modernidade, irmão,
é só mais uma espécie de tagarelismo sentimental.

- Não me implore comentários.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cogitabundo


Tanta coisa a fazer e
hoje me vesti de poeta cogitabundo.

Sentei na praça pra ver a rua passar
embalada,
é claro,
no gordo compasso de uma bela bunda.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Supersonia

Dorme,
tanto que acorda já cansado.

Não é em noite que sonha
o tempo e a cidade
nem ao menos transmuta
agonia em ternura
amor e
versos.

Só dorme o sono pesado.
Tanto que acorda já cansado.

domingo, 23 de maio de 2010

Olimpo


Fácil admitir que
entre mim e o Olimpo
há uma escada de
cem muitos e sem degraus.

Pouco dinheiro,
falta de tempo,
Estou sempre quase-cansado
cabelos sem corte,
Dor-de-cabeça
e de simpatia não me sobra
quase-nada.

Pensar no Grande Desatino
custa tempo demais.

A canção não pára e a preguiça
a rede embala.

Aqui me reconcilio.

Não perder a poesia ao amar,
jamais.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Manifesto Cotidianista II


Pela via contrária
busquei redizer minha
noite cansada
em poesia.

Pra que inventar
tanta pompa
na letra e juntar
palavra com burocracia?

No fundo foi só
dor-de-cabeça
desejo politicamente incorreto e
a santa punheta
de todo dia.

sábado, 8 de maio de 2010

Acorde


A dissonância de um acorde me tira
o sono intranqüilo.
À corda atento o movimento:
O som,
o ar que vibra.

Por entre reis e leis,
talvez.
Por entre o ás e o eu...

Já faz um tempo
e eu nem sei
bem bem por onde estive.

Mas eis que acordo dissonante,
cambaleante,
com uma camada de ar me arrepio e memorizo.
Tipo quem olha pra trás,
num desafio de si mesmo:
- Acorda!, é um sinal reconhecido.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Cri, Cri

Tenso.
Eu ouço grilos Hitchcock -
só de pensar fustiga o medo
aperto o peito e o ar
me foge engatinhando.

Eu ouço grilos Hitchcock -
em meu lugar
quem não ouviria?
Cândida e sufocante agonia
de fracassar.

Meus lençóis suam frio
a rede balança um lado a outro
uma quimera, melhor
pantera,
por baixo passa e mia.

Os grilos trintilam cri cri.

Eu ouço grilos Hitchcock.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Manifesto Cotidianista


Suportarei a chaga
de ser banal
pela singeleza do dia-a-dia.

Agora mesmo escrevo do banheiro.

Um viva à lajota quebrada
à torneira pinga pinga,
e à descarga mal dada!


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Notas da loucura

O cenário de onde escrevo agora talvez seja um dos mais improváveis possíveis. Bem diferente da minha costumeira e sossegada rede. Aqui meus olhares perdidos logo se perdem no jeito, de tão rápido que esbarram nos olhares de outrem. A praça de alimentação está lotada de pessoas em horário de almoço e o cenário de onde escrevo agora talvez seja um dos mais improváveis possíveis.

Eu estou louco. Descobri isso ontem à noite, na verdade, hoje de madrugada, durante um telefonema amigo. Há pouco, quando acordei, me ocorreu a idéia de fugir de casa por algumas horas, andar a esmo, sabe... Poderia pegar um ar fresco na moleira, oxigenar o cérebro e conversar com meus neurônios de confiança, fazendo uma grande trupeada mental... E pra que mesmo? Uma pitada de realidade me conduz fácil a perceber que o mormaço do sol a pino em nada lembra o ar fresco que meu cérebro cosera. Ademais, o CD do Duke Ellington que estou a ouvir se aclimata tão melhor ao ar-condicionado do shopping que ... é, realmente um cenário improvável.

Algumas pessoas me devoram insistentemente entre uma mordida e outra. Até parecem saber que eu descobri sobre a loucura - a minha e alheia. Digo que não costumava ser prática minha noutros tempos, mas como bom pecador deste mundo hei de falar: são todos loucos também, e piores que eu, não o sabem ou admitem - olho todos aqui travestidos. Se sensatos fossem expressariam outra coisa em lugar dessa estranheza mesquinha, mas não... A cara de nojo daquela Barbie... à Casa Verde, à Casa Verde!

Levantemos o véu!, o foco da conversa nós conhecemos. Os loucos aqui, conscientes ou não, nos comunicamos. Alguns abundam em discurso, dizem ter poder, posses... Mas para mim há um vácuo em suas falas, ouço quando se perdem. Não se entendem comigo, e eu, só por presença, os agrido. Quem sou eu para condenar... Não poderia fazê-lo só porque estou mais leve. Essas verdades, disse, substituí pela melhor escusa: estou louco.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Identidade

Não é que de repente

tenha me tornado um poeta abusado,
exigente.
É só que tomei consciência
de mim.

Sei que não
mereço uma vida jazz
e sexo comportado.
Compromisso às oito.

Eu nasci pro calor do
tambor das crioulas
me aquecer.
Pra beber cachaça
em vez de uísque.

Que não me venham com aquela
conversa empolada,
por favor!
É nas calçadas da vida que escrevo
meus versos.

Como marcas no chão
permaneço encantado -
Até que a chuva não caia
tipo borracha
até que alguém me leia
me ressuscite.